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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Fly dragonfly...Até sempre Glorinha.

“Death is always on the way, but the fact that you don't know when it will arrive seems to take away from the finiteness of life. It's that terrible precision that we hate so much. But because we don't know, we get to think of life as an inexhaustible well. Yet everything happens a certain number of times, and a very small number, really. How many more times will you remember a certain afternoon of your childhood, some afternoon that's so deeply a part of your being that you can't even conceive of your life without it? Perhaps four or five times more. Perhaps not even. How many more times will you watch the full moon rise? Perhaps twenty. And yet it all seems limitless.”  

Paul Bowles 


quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

COM O CORPO TODO

"O amor é um sábio a andar de pantufas pela casa e a regar as plantas da varanda? O amor é um animal carnívoro a querer saciar-se? O amor é a esperança de uma comunicação total, como a internet? Quantos braços tem o amor? Dois, quatro, seis, oito, dezenas, centenas, milhares? O amor expande-se ou contrai-se? Segue a ordem deste universo ou de um outro qualquer? O amor conspira contra o universo? O amor é aliado do humano? O amor é o humano? O amor é o universo?
Como é que o amor se transforma em amar? Como é que o amor se ergue de repente e começa a andar nas suas duas pernas? Como é que se vai de um amor ao outro? É mesmo outro o amor? Ir de 1 a 0 é amar? Qual a raiz quadrada do amor? O amor tem língua própria? O amor traduz-se?"

Paulo José Miranda, in Com o Corpo Todo
Fotos: Kathy Klein

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O MAR DA TRANQUILIDADE

A LUNARLAND.COM, intitula-se a primeira e única agência credenciada para vender propriedades na Lua. O facto é que está a fazê-lo desde há 22 anos, e a julgar pelos números apresentados parece que há pelo menos dois milhões de pessoas em todo o mundo a sonhar com outro planeta. De tal forma que neste momento, os únicos pedaços de solo lunar disponíveis são no Mar da Tranquilidade, junto à Cratera Arago, perto do sítio onde pousou a Apolo 11 em 1969.
E quem é que não queria viver num "mar de tranquilidade" digam lá?
A boa notícia é que a coisa é acessível a qualquer bolsa. Por apenas 29 dólares, podemos transformar-nos nos orgulhosos detentores duns 4000 metros quadrados, transacção feita com direito a documentos e tudo. Claro que o que fica mais caro é poder visitar a nossa propriedadezinha. Mas quem sabe possa vir a ser um investimento rentável, isto para além do brilharete que podemos fazer em noites de Lua cheia, estendendo o dedo com ar "négligé":
- Tenho ali agora uma propriedade...

Fotos: Thom Kerr

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

LEMBREM-SE DE ESQUECER

Mesmo quem não se interessa pelo Japão não pôde deixar de fixar recentemente um nome muito noticiado nos jornais, sempre de mãos dadas com uma tragédia e abraçado a um perigo silencioso, invisível e letal - Fukushima.
Não tenho a intenção de trazer aqui polémicas ou julgamentos acerca da utilização de energia nuclear. Quero antes induzir outro tipo de reflexão, menos habitual, mais filosófica se quiserem.
Este Natal fui presenteada com um DVD. Um documentário de 75 minutos realizado pelo dinamarquês Michael Madsen que tem por título "INTO ETERNITY". O filme fala-nos duma obra ímpar, talvez demasiado humana para desafiar a eternidade como  pretende, ou talvez não.
O uso de energia nuclear tem como resultado inevitável resíduos que permanecem radioactivos durante 100 000 anos. Actualmente existem em todo o mundo cerca de 250 000 a 300 000 toneladas de resíduos nucleares de alto risco. Claro que há depósitos para os guardar. Mas são vulneráveis face a catástrofes naturais ou provocadas e requerem uma manutenção constante. Por isso, os Finlandeses decidiram construir o primeiro depósito permanente. Escavando rocha sólida para criar um complexo gigantesco que se estende através de túneis descendo a 500 metros no subsolo. Chama-se ONKALO - a palavra finlandesa para esconderijo.
A obra deverá estar terminada apenas em 2100. Nenhuma das pessoas que participou no projecto viverá até o ver terminado. Nenhum de nós terá oportunidade de falar dele nessa altura. Depois de completo será selado e espera-se que seja esquecido. Mas é necessário prevenir aqueles que hão-de vir. Aqueles que poderão voltar a descobrir ou a pisar o local nos 100 000 anos que se seguirão. Quem serão? Falarão a mesma língua? Dominarão a mesma escrita? Compreenderão o que para nós são sinais que significam perigo? Conhecerão a energia nuclear e a ameaça radioactiva? Terão meios para escavar em profundidade? Julgarão perseguir um tesouro?
Como prevenir o futuro? Como dizer-lhes que "se lembrem de esquecer" esse lugar? Como projectar para a eternidade?
Devemos deixar-lhes tabuletas em todas as línguas ou imagens do Grito de Munch?

domingo, 8 de janeiro de 2012

WE CAN BE HEROES JUST FOR ONE DAY...

Contracenou com Ryuichi Sakamoto em 1983 no filme de Nagisa Oshima - Feliz Natal Mr Lawrence. É um princípe do rock.
Faz hoje 65 anos.
Parabéns David Bowie!

sábado, 31 de dezembro de 2011

INOCÊNCIA

Será possível retomar uma conversa há muito interrompida? Voltar atrás como quem clica no botão de rewind num DVD? Reaver intacto o copo partido, a frescura duma flor amanhecida, o cheiro dantes intenso agora ténue numa travesseira abandonada? Aquele momento de expectativa inocente que marca todos os inícios?
Não, acho que não.
Somos sempre outros, mesmo quando dizemos que somos os mesmos.
Aconteceu tanta coisa desde que aqui deixei a última mensagem.
Seja como for, hoje apeteceu-me quebrar, ainda que por momentos, este silêncio.
Que o fogo deste ano do dragão nos leve, a todos, a territórios mágicos, fazendo de cada um cavaleiro, princesa, guerreiro e fada. Porque não?
Apenas mais um ano?
Não.
Um ano cheio do brilho quente do fogo.
Para todos.

"Better burn out than fade away"
Feliz 2012!
Até sempre.

domingo, 15 de maio de 2011

ESTOU NA TAILÂNDIA!!!!

Pois é, tirei uns dias de descanso da blogosfera. É que... a brisa traz um cheirinho a Verão, apetecem vestidos com flores, janelas abertas, passeios, e livros saboreados ao final da tarde com a luz dos dias grandes a entrar pela janela e a antecipação dum vinho branco fresco...
Entretanto, havia alguns compromissos que não podia deixar de cumprir: a minha participação no EmQuantos, e a entrevista sobre a minha viagem à Tailândia (feita em 2000) no blogue Uma Esposa Expatriada.

Por isso, se tiverem muitas saudades minhas, já sabem onde estou. Volto em breve!

MIL TERNURASSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS!

LOLI

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Meditações Numa Emergência

Muita coisa pode mudar entre aqui e aqui.

A unica coisa que podes mudar é a tua cabeça.

As expectativas são desapontamentos disfarçados.

Subitamente percebi que usava este pequeno chapéu ridículo, só para lhe agradar.

Hei-de amar-te sempre, não importa o que diga o meu horóscopo.

Agora que tu és o meu problema, a quem é que vou contar os meus problemas?

Fiz com que mudasse, mas agora tenho saudades do seu antigo eu.

O mundo seria insuportável sem eufemismos.

Nós pensamos de maneira tão parecida.
 Embora eu não faça a mínima ideia do que estás a pensar.


Imagens e texto do livro de Donny Miller,"Beautiful People with Beautiful Feelings"

domingo, 1 de maio de 2011

Mãe!


Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado!
(...) Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado!

Almada Negreiros

quinta-feira, 28 de abril de 2011

JAPANESE BEAUTIES

Sabemos bastante mais do Japão actual, do que do passado desse país que o shogunato fechou em séculos de clausura e que viu a sua entrada na modernidade acelerada na Era Meiji (1868 - 1912).
Em 1887, a Imperatiz Haruko publicou um memorando, onde afirmava que os quimonos eram uma relíquia do século XIV, e apelava a  uma ocidentalização do vestuário.
Ao fazê-lo, abriria caminho aos loucos anos 20 do liberal Período Taisho, em que as moga (raparigas modernas) e os mobo (rapazes modernos), dançavam nos salões de baile copiando a última moda Europeia.
Elas de cabelo curto, eles de cabelo longo e óculos redondos, numa imitação do actor Harold Lloyd.
Bebiam-se cocktails e discutiam-se os autores Ocidentais e literatura Marxista.
A primeira revista de moda no Japão, Sutairo (Style), foi publicada em 1936 pela escritora Chiyo Uno, também ela uma moga.
Ela foi uma das muitas mulheres Japonesas que no inicio do século XX, tiveram a coragem de desafiar a tradição e as convenções sociais, através do modo de vida, dos amores e da arte, mas também do visual que escolheram adoptar.

Todas as imagens são do livro "Japanese Beauties" da Taschen, que uma amiga querida me ofereceu.

terça-feira, 26 de abril de 2011

HISTÓRIAS DUM TERRAMOTO - 2:46 PARTE III


MUENBOTOKE

A 11 de Março de 2011, um sismo de magnitude sem precedentes...
No ano passado deixei que me lessem a  palma da mão por brincadeira. Era parte dum evento num hotel - vinho, queijo e alguém que lia a sina. A mulher que fazia isso, parecia suficientemente agradável, talvez no inicio dos seus quarenta anos, cabelo comprido, negro e encaracolado, uma saia longa vermelha, casaco de couro negro sobre uma blusa púrpura, uma cruz egipcia com uma fita de seda preta segurando-a à volta do pescoço em vez duma corrente.
Com um ar jovial, segurou a minha mão na sua enquanto eu me sentava, focou-a, esticando levemente a palma com um dedo pequeno e fino, e disse uma coisa um pouco estranha.
"Você tem um quadrado no monte de Mercúrio, a sua vida será e tem sido, uma vida excitante, ensombrada pela fatalidade onde esteve e onde há-de ir."
"Será que eu não poderia ter direito a uma leitura ligeiramente mais optimista?" brinquei. Ela riu-se e eu fingi que tinha que me encontrar com alguém, que estava atrasado, e saí. 
Eu não preciso que alguém me diga que a minha vida involve fatalidade. Todos conhecemos aquele pequeno e divertido provérbio Budista acerca da nossa condição de seres mortais:
"A causa da morte é o nascimento".
(...)

JAKE ADELSTEIN
TÓQUIO

segunda-feira, 25 de abril de 2011

DECLARAÇÃO DE AMOR

HOME IS WHERE THE HEART IS...
O nosso lar está onde estiver o nosso coração, a pátria também. DONALD KEENE, cidadão Americano, emérito Professor de Literatura Japonesa na Universidade de Columbia, dividiu mais de 50 anos da sua vida entre o Japão e os Estados Unidos. Donald Keene foi no Ocidente um verdadeiro missionário da cultura nipónica: "...eu propago-a no Ocidente a pessoas que talvez nunca tenham ouvido falar em nada que seja Japonês. Acredito que isso possa desempenhar um papel importante nas suas vidas."
"As pessoas por vezes escolhem na vida o caminho mais fácil. Podem dizer que a razão porque desconhecem a literatura Japonesa, é porque é tão estranha, tão "estrangeira", tão diferente da sua. Isto é uma coisa tão infeliz para se dizer, porque se somos seres humanos cultos, devemos estar atentos a outras culturas, não apenas à nossa."
Donald Keene junto ao túmulo de Matsuo Bashô, 1953
Aos 88 anos, o homem a quem ficamos a dever a tradução de dezenas de obras de autores Japoneses de diferentes estilos e épocas, aquele que disse: "Esqueço-me que não sou Japonês", numa atitude a que não será alheio o drama de Tohoku e a decisão, que o desgostou e que criticou, de muitos estrangeiros abandonarem o Japão, requereu a cidadania Japonesa mostrando todo o apoio e confiança nessa forma de declarar o amor pelo país que ao longo da vida teve sempre no coração.

sábado, 23 de abril de 2011

FELIZ PÁSCOA!

Para todos os meus amigos, a mais doce de todas as Páscoas!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

HISTÓRIAS DUM TERRAMOTO - 2:46 PARTE II



FORMATURA

Tínhamos acabado de regressar a casa do concerto de despedida da minha irmã mais velha, quando a catástrofe sem precedentes
aconteceu em Tohoku e Kanto. A nossa filha mais nova estava na casa de banho mas a porta do quarto das crianças tremia e abanava. Era estranho. A irmã estava ainda na escola. Seria um fantasma? Que ideia mais parva. Não, é um terramoto! Está tudo a tremer como nunca antes! Demorou um minuto até perceber isso. E então, logo a seguir, veio o blackout. Corri para a escola para ir buscar a minha filha mais velha. Alguém dizia que de acordo com as previsões um grande tsunami vinha a caminho. Mas nessa altura eu ainda pensava, "Não, não vai acontecer." (...)
Os contínuos cortes de energia são de facto inconvenientes, mas não são nada comparados com o frio sentido nos abrigos. A pastelaria teve que fechar e era o dia de anos da nossa filha mais nova. Então, eu mesma fiz o bolo. Para ter chocolate, juntei todos os Hershey's do dia de São Valentim e derreti-os. Acabei de o fazer dez minutos antes do blackout. Ufa. Colocamos velas de emergência no bolo de chocolate e celebramos os oito anos da nossa menina.
 Nesse mesmo dia chegaram os sapatos novos para a cerimónia de formatura. (...) Quando as crianças desfilaram no ginásio, costas direitas, peitos para fora, os meus olhos arderam. (...)
Tudo teve um ar solene, quase sagrado. Todos tinham a cabeça bem erguida. Crianças de doze anos. Que impacto teve neles este desastre? Pertence-lhes o futuro do Japão por reconstruir.
(...)
Eu penso como fui afortunada por poder presenciar este momento tão especial.
Feliz formatura!
Que todos vocês possam ter uma boa viagem enquanto seguem os trilhos da vossa vida.

MAY ARAI
KAMAKURA

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