Li um artigo proveniente da blogosfera estrangeira sediada no Japão, neste caso em Hiroshima, com o título "A commentary on life as a gaijin", que me pareceu pertinente comentar aqui no Banzai. A expressão gaijin, que por mais de uma vez já utilizei, é considerada uma abreviatura de gaikokujin, que significa "pessoa proveniente de um país estrangeiro", não havendo nisso nada de pejorativo, mas se pensarmos que "outsider", está na origem da palavra, começamos a reparar que há um universo de exclusão aqui associado. Numa sociedade tradicionalmente homogénea, como a Japonesa, pode-se dizer que "once a gaijin, always a gaijin", isto significando que, mesmo vivendo e trabalhando no Japão durante anos, e dominando a língua, se continua a ser designado do mesmo modo que um turista que veio por uma semana.
Isso fez-me pensar em Wenceslau de Moraes, o Português que amou o Japão com genuína paixão, que escolheu terminar aí os seus dias, convertendo-se ao Budismo em Tokushima, "talvez como forma de mais facilmente penetrar na alma japonesa e ser aceite pelas gentes da terra". Wenceslau de Moraes não foi infelizmente compreendido nem aceite em vida, sendo "chamado pelos gaiatos de ketojin" (selvagem barbudo). "Aquele que trocou a sua alma pela japonesa", como diz a inscrição do monumento que Tokushima dedica á sua memória, soube sempre que não era Japonês. Talvez quisesse ser apenas aceite com insider. Mas, como diz Will Fergusson:
"In Japan the movement from Tourist to Exile to Insider is one that ends at Exile. There is no final step inside. (...) The problem is not that you aren't welcome. You are. You are welcome as an outsider. The problem is not exclusion, the problem is partial exclusion. The door is open but the chain is on."
Hoje, Tokushima celebra e respeita Moraes, ele é finalmente, nem gaijin, nem ketojin, mas Moraes-san.
Referências:
Will Fergusson, Hokkaido Highway Blues
Wenceslau de Moraes, Fala a Lenda Japonesa, colectânea de lendas e histórias organizada por Maria João Janeiro
1 comentários:
é uma pena que os seres humanos sejam sempre cheios de preconceitos (e isso existir em todo lugar).
Isso nos impede perceber o que a pessoa realmente é. O preconceito não é diferente no Japão e no Brasil também.
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