"Era uma vez um marido que sentia ciúmes da sua mulher. Desculpem a banalidade do começo, mas talvez a história ainda vos surpreenda. Não entendia por que motivo chegava ela a casa todos os fins de tarde com aquele sorriso desenhado no rosto. Poderemos ter ciúmes da solidão ou da tristeza do outro? Talvez sim, mas no caso dele, era da sua alegria e os ciúmes sentidos nasciam da forte suspeita de que ela vivia um outro amor. Um dia, decidiu acabar com esse tormento e contratou um detective privado. Queria saber a verdade. Ela continuava a chegar atrasada e parecia cada vez mais alegre. Ele estava desconfiado de que ela tinha vidas insuspeitas mas misteriosas. E tinha mesmo. Todos os dias sentava-se no mesmo banco do miradouro em frente ao rio, a ler. O livro estava forrado com uma capa branca. Parecia sempre o mesmo, aos olhos de quem passava. Mas aos seus olhos, era Madame Bovary, Anna Karenina, Orgulho e Preconceito, Os Maias, Por quem os Sinos Dobram, Gabriela, Cravo e Canela, As Mil e Uma Noites, O Conde de Monte Cristo, Em Busca do Tempo Perdido, O Amante, O Monte dos Vendavais, A Sibila ou África Minha. Estava viciada em fantasia e na alegria de escapar da sua vida monótona. Imaginava-se uma heroína romântica na intensidade de uma vida em segunda mão. Queria ser Odette, Quina ou Anna, cometer adultério, viver como Maria Eduarda, sentir como Gabriela, vestir-se como Emma ou Catherine, ser seduzida por um amante, chorar no século XIX e rir em Paris, descobrir-se Elizabeth ou Mercedes, ser dona de uma quinta em África ou chamar-se Xerazade, perder-se em palavras e encontrar-se num livro. Às vezes, nos dias mais longos de Verão, chegava a atrasar-se 43 páginas ou dois capítulos e meio. Justificava-se junto do marido com uma avaria do automóvel ou com uma amiga com problemas no casamento a necessitar de desabafar. Mentia-lhe como se estivesse a ocultar um segredo terrível. Ao fim de um mês de observação atenta, o detective privado escreveu o seu relatório. A sua mulher passa as tardes inteiras sozinha no banco de um jardim, com a cabeça ligeiramente inclinada e debruçada sobre um livro branco. Descobrir que os ciúmes são infundados pode ser o motivo de uma enorme alegria, inexplicável para todos os outros seres humanos, pensou o marido, enquanto relia aquelas palavras. Sem saber que nesse fim de tarde a sua mulher tinha decidido meter conversa no dia seguinte com aquele homem que, visivelmente interessado nela, passava há um mês inteiro as tardes a observá-la como o marido nunca olhara para ela, da primeira à ultima palavra."
Texto de Maria João Freitas, in revista nós, alegres, Jornal i, 1 de Agosto de 2010
Art: Morori
51 comentários:
Amei, amei esse conto, Loli!!
Achei que era teu, tem muito sincronismo com sua escrita.
Remeteu-me a um fragmento de "Felicidade clandestina": "Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante."
Que traição boa essa, não?!
Mil beijinhos!!
Ternurassssssssss...
Ler
ler é uma passagem
para a outra margem
onde moram outras vidas
a merecerem ser vividas
Perfeito! Esse tema sempre nos "assombra", pelo teor de seu veneno que nos inebria...
É uma mistura de carência, com insegurança tola, infantil, que nos distorce e embaça nossa visão...sobre o outro e principalmente sobre nós mesmos.
Enfim, sou contra esse veneno...e a favor de desapego (a dois!) hehehe.
Gosto da vibração positiva que sinto ao visitar aki...
Beijosssss e carinhossss!!!!
;)
Ah, substitui traição por infidelidade, combina melhor ao caso!
Sweet Loli!
Delicioso e tão envolvente que li tudo num momento que voou...
Como eu entendo esta mulher!
Tenho a certeza absoluta, que quase todas nós mulheres já se sentiram amantes em circunstâncias semelhantes.
Quantas vezes e quantos de nós já não trocamos a companhia de alguém pelo desinteresse que essa pessoa mostra por nós???
Adorei.
Beijoooooo
Ná
Oi Loli!!!
Eu amei isso!!! Muito perfeito!!! Os livros citados são maravilhosos, ainda não li, mas estão na fila das minhas leituras acumuladas, alguns deles eu só vi o filme. Adorei tanto que já vou salvar no meu computador. Amei, amei, amei!!! Os livros são minha paixão, a onde quer que eu vá sempre estou com um.
Tenha uma ótima semana!!!
Um super beijo
Bia
Minha doce amiga lolipop!
A linda Margarida que nos encanta com um jardim cheio de histórias que nos fazem refletir sobre o importante que é entender a profundidade do ser humano.
Ler nos faz compreender melhor o mundo em que vivemos, nos torna mais livres e com os olhos bem abertos para tudo que está ao nosso redor.
É como descobrir o amor e com isso não queremos mais nos separar.
Ternuras mil!
Beijos e uma linda semana
Bela maneira de falar de livros...E belo título.
Lolo,
é caso para dizer que contratou o detective cedo demais, rsrsrssss!
Gostei muito!
Beijinho,
Ana Martins
Olá Loli,
a leitura, sem dúvida nenhuma, nos leva a outros mundos. Comigo, sempre que acabo de ler um livro, fica o gostinho de quero mais, mas são momentos, bons momentos.
e a vida real? ah, essa se nos dedicassemos um pouco mais, um pouco mais de romance, renderia bons momentos e casamentos mais felizes.
Bom, aqui sempre passo bons momentos.
Adorei a visita e a participação, boa sorte.
Bjs
Que lindo isso,Loli! um beijo,tudo de bom,chica
Olá Loli.
História bem curiosa e que podia facilmente acontecer na vida real.
A leitura transporta-nos a outras vidas, outros países, outros Continentes e a outras Culturas.
É dos prazeres melhores que a vida tem e quando um livro nos prende, enquanto não chegamos ao fim não descansamos.
A mim acontece-me uma coisa curiosa: quando termino a leitura de um livro, fico quase sempre com uma enorme sensação de perda.
É como se os personagens, durante o desenrolar da história, ganhassem vida e afinidades connosco e no final partissem para longe.
Com " A menina dos meus olhos" e "Amor em tempos de cólera" aconteceu-me isso de uma forma muito intensa.
Pode ser parvoíce, mas é verdade.
Beijinhos ternos.
Janita
Pois são esses os meus amantes, querida Loli! E olhe que foram muitos ao longo da minha vida. Experiências de todos os tipos. Meus amantes foram altos, baixos, louros, morenos, negros, gordos, magros, grossos e finos e os amei e amo de uma forma como jamais amei ninguém...
Que belíssimo conto de amor. Quanto ao marido, esse mereceu ser traído de verdade! Amei! beijos,
Olá, querida
Passei para explicar-lhe algo e fui contemplada com esse conto interessante e com uma mensagem profunda... Muito bom!!!
A BCFV (Blogagem Coletiva Fases da Vida) estará explicada em meu post do dia 23 próximo (reprisada)... entre na roda com a gente...
Aquela que vc passou era eu que participava de outra iniciativa (distinta do convite que lhe fiz)...
Mais uma vez:trama interessante nos brindou com esse conto... Tomara ter final feliz pra moça... pois o ciúme corroi qualquer relação...
Bjs Dominicais
Aqui Bella, nada é banal...
Xiiiiiiiiii acho que no fim o cara era traido no imaginário dela, e para variar acho que no mundo real o marido ainda perdeu o "objeto" de posse para o detetive...
Conto, encantador, e que mexe com sentimentos mais profundos que temos medo até de pensar...
Que lindo Loli,
Que contou maravilhoso, como sos livros nos fazem viajar, como nos remete aos personagens, a seculos passados, etc.
Eu os amo, adoro ler..
Adoro seu blog, me sinto como se tivesse numa cahoeira apenas a ouvir o som das águas e o cantos dos passaros.
bj amada!
Linda Flor, bati no botão errado e foi... apressadinha tenho que me despedir.
Uma semana iluminada p/ você.
Carinhosssssss
Ah! amanhã tem blogagem coletiva, até sexta vamos ter muitas novidades na vitrine...
Muito interessante e giro esse texto. gostei!
Tem maridos que merecem muitas vezes um sustinho, pois não percebem o que está acontecendo à sua volta, ficam apenas no ciúme bobo e perdem aos poucos aquela pessoa que julgam amar.
beijinhos cariocas
Ahhhh que lindo!
Me encanto com suas escolhas. Este espaço me enche de curiosidade, ternura... Viajo.
Gostei do desenrolar da trama rss
Realmente, alguns olhos cegam-se na suas obsessões que esquecem-se de olhar a volta, as coisas mais simples, o que o outro pede, o dia de sol... enfim, cada um com suas necessidades... e cada qual que pague o preço por elas...
Abç
:)
Nossa!! Adorei!
realmente os livros são envolventes.
beijos
ps:
tem livros que vale uma traição dessas num banco de jardim rs
Tb pensei que vc que o tinha escrito.
Aliás, eu nem cogitei a possibilidade de o texto não ser teu!
Livros são bons amantes.
Quando eu era jovem em tempo escolar apaixonei-me por uma fantasma...
Desse modo nunca sofri de ciumes, ninguém conseguia vê-la. Mas que ela era linda, lá isso era!
Adorei Loli, os livros são os melhores que se podia mencionar (uma viagem à fantasia)!!
beijinhos
AH! Esse conto eu adorei Loli!
Primeiro por ser verdade...ao ler um livro nos tornamos amantes sem dúvida!!! Segundo pelo desfecho...bem feito ao marido...heeee
Como sempre saio daqui melhor do que cheguei!
Beijão.
Astrid Annabelle
Queridaaaaaaa! Simplesmente lindo e sensacional! AMEI!
Tá tudo tão lindo por aqui, adorei tb! ;)
Beijo, beijo!
She
Oi Margarida,
Amei o conto. Fcio aqui na torcida para que o detetive se apaixone por ela.
Bjkas e uma semana maravilhosa para vc.
http://gostodistonew.blogspot.com/
Oi Querida,como você está?
Eu adorei esse conto.
Acho que a Mulher e o Detetive viveram felizes para sempre.
Uma semana maravilhosa para você.
Beijo Lu
Loli,tb pensei que vc havia escrito.Muito bem bolado esse conto!Na falta de uma vida feliz,ela se abriga nos livros até chegar alguem que compartilha os mesmos interesses!Espetacular escolha!Bjs,
Loli,tb pensei que vc havia escrito.Muito bem bolado esse conto!Na falta de uma vida feliz,ela se abriga nos livros até chegar alguem que compartilha os mesmos interesses!Espetacular escolha!Bjs,
Loli, levantei-me há pouco de uma rede na varanda. Estava em companhia de cinco livros. Agora nada melhor do que chegar aqui e ler um texto fantástico que me raptou até o banco no qual a protagonista lia. Sensação gostosa e imperdível!
Amei o desfecho!
Bjs!
Adorei!
xx
Oi Lolipop!
Excelente conto, adorei! Gostei muitíssimo do final, rsrsrs.
E passei também para te agradecer, de coração, pelo carinho lá no meu PBI. Muito obrigada, amiga, você é uma pessoa incrível e aprendo muito aqui nesse blog. Muitíssimo!
Beijos
Carla
Oi, Lolipop!!!
Vim ler as novidades e deixar um presente para você:
ABRA TEU CORAÇÃO
Quando tua alma
Parecer pequena,
Mesmo quando achar
Que amar não mais vale a pena,
Abra teu coração!
E quando a noite chegar
E a solidão te alcançar,
Ainda assim, eu peço,
Abra teu coração!
Vou te contar um segredo:
Um coração
Só abre por dentro
E só o dono tem a chave!
E se ele se fecha ou se abre
Depende unicamente de ti.
Abra!
Tire as mágoas,
Jogue fora as tristezas,
Deixe somente doces lembranças
E faça um lugarzinho
Pra acolher as belezas
Que a vida te reserva.
Tenho certeza
Que a ternura vai fluir.
Teu coração renovado
Será fonte de alegria,
E será maravilhoso te ver sorrir.
Autora: Letícia Thompson
____________________________
Boa semana!
Beijinhos, muitos!!!
Sônia Silvino's Blogs
Vários temas & um só coração!
Uma desconfiança infundada, e a falta de diálogo, pode acabar com um casamento.
Bjux
Desfecho surpreendente!! Gostei! :)
Bjim!!
;)
Ah gostei sim, Loli!!!
muitas vezes a gente desconfia de algo que nem existe e esse desconfiar nosso faz com que isso aconteça.
Adoro ir ler sentado em bancos de praça, na avenida paulista.
Que bom que tu gostou da minha nova foto de perfil, demorei séculos pra mudar aquela.
Beeijos Loli!!!
ah, eu tb adoro viajar lendo livros. Gostei do post.
ADOREI este conto! Não há monotonia ou marasmo que resista a uma boa história que nos leve para além do real do qual nem sempre queremos ser parte... muito melhor partir para parte incerta, destinos improváveis, praias tórridas ou picos gélidos cobertos de neve... monotonia? só se não penetrarmos nas páginas deliciosas de um texto que, qual tapete voador, nos transporte para o meio da floresta encantada ou para o meio do deserto...
Oi Margarida,
Decididamente, não há ciúme gratuito, e o marido inconscientemente sentia que estava "andando mal" junto a sua mulher. E o final da história é sintomático, rsrs. Adorei.
Bjssssss
Olá Loli,
Muita mudança houve por aqui!
Os livros são veículos de motivação e expansão da fantasia...busca-se nos livros além do conhecimento, outros mundos e emoções!
Ciúmes não é gostar...é fechar portas...essa mulher estava mesmo a precisar de janelas abertas, de uma atenção especial!
Beijos,
Manu
as mulheres sempre surpreendem.
que conto espetacular amiga,
adorei!!!
beijao.
hehehe... Que divertido esse texto! E de boa reflexão para os que negligenciam de seus parceiros rs...
Beijo na alma, querida Loli!
Que belo conto...com final inusitado...um livro é tal como um amante,sempre traduzido de mistérios,partes a desvendar,mundo imaginário onde tudo pode ou não acontecer...pena que muita gente gente foge, desse, que pode ser o melhor dos amantes!
bjo
Loly gostei do texto, quando lemos livros ou vemos filmes é engraçado eu as vezes me imagino naqueles lugares e cenas, a felicidade vem naqueles instantes, é tão legal, pode ser mesmo um escape do dia a dia, sortuda a mulher da historia :)
"como o marido nunca olhara para ela"
muito fazem isto.. bjs e abraços minha amiga e um ótimo final de semana pra vc!
Minha linda flor, Margarida.
Assim, posso dizer que literalmente tive inúmeros amantes ao longo de minha vida, como Glorinha descreveu.
Lindo e instigante texto, minha querida amiga.
Sensacional Margarida.
E por assim não me valorizares, não te traio, apenas te desprezo também.
Muitos amantes são companheiros das mulheres por uma vida toda, sem que os traiam.
Bjs no coração!
Nilce
Minha nossa que texto mais lindo e belo!! Adorei!! Beijinhos super hiper mega fofinhos e tem um excelente carnaval amiguinha e por falar em carnaval visita e comenta em http://coisinhassobresaude.blogs.sapo.pt e http://cinemasobrecinema.blogs.sapo.pt lá nesses dois meus blogues há novidades sobre o carnaval da minha vila e da minha cidade!!
Me deu um arrepio o fimdo conto, muito lindo mesmo!!! Bjokitas querida.
www.coisinhasdenikita.blogspot.com
Que delícia de conto...A fantasia. nela é possível viajar nas suas asas e visitar os desejos mais profundos da nossa alma.. Obrigada por me fazer viajar através do texto.
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