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domingo, 19 de setembro de 2010

SHINTOÍSMO - UM CAMINHO NA FLORESTA --PARTE I

Recentemente, li muito sobre perdão na blogosfera. Textos lindos que me levaram longe, até á minha infância...habitada pela confissão e a absolvição, como se nas igrejas houvesse néons gigantes com palavras escritas: PECADO, CÉU, INFERNO. Fui educada no catolicismo, frequentava a catequese, ia à missa, fiz a primeira comunhão. Tinha um pequeno missal com capa de madre-pérola e um fecho dourado, oferta da minha mãe. A minha visão do mundo era simples e maniqueísta. Havia os bons e os maus. Os bons eram limpinhos e asseados, não mentiam, não roubavam, davam esmola aos pobres e rezavam antes de dormir. Os maus eram o contrário disso tudo.
 Claro que quando comecei a ter idade para me colocar interrogações socráticas, as questões surgiram em catadupa. Havia alguns bons que pareciam maus e vice-versa. E a Igreja não servia como fio de prumo para os distinguir. O mundo não se pintava a duas tintas, mas a três, quatro, cinco...os meus lápis de cor já não chegavam.
A partir da adolescência, o meu missal foi remetido a uma caixinha onde guardava objectos antigos de que gostava. Iniciei a minha fase Kantiana, "...o céu estrelado sobre mim, e a lei moral dentro de mim." É nisso que penso quando, no Japão, entro num templo Shinto.
Templo em Enoshima
O Shinto é a religião nativa do Japão. Com uma longa história, ligada à espiritualidade e mitologia, é olhado como contendo as verdadeiras raízes espirituais da alma Japonesa. Não se trata duma fé transmitida por um mestre aos seus seguidores. O Shinto não tem um fundador, não há o equivalente ao Gautama Buda no Budismo, ou a Jesus no Cristianismo, o que faz com que seja livre de qualquer doutrina sistemática, preceitos ou mandamentos, afastando-nos do que é visto como um obstáculo á nossa salvação, como almas originalmente corrompidas pelo pecado.
Meiji-Jingu, Tóquio
Segundo o Dr. John Herbert, professor na Universidade de Geneva, na Suíça, e estudioso desta religião, o Shinto não requer nenhuma uniformidade de crença ou de práticas. "Encontrei-me com cerca de 1000 sacerdotes Shinto e nunca ouvi as mesmas palavras de cada um deles. No Shinto, as pessoas não falam seguindo um mesmo padrão. Não sentem essa necessidade, nem essa obrigação." O Shinto é antes definido como "uma religião que reverencia a natureza". Foi duma profunda percepção das leis da natureza e dos mistérios do mundo natural, que surgiu a necessidade de manifestar deslumbramento e gratidão, através de mitos e rituais.
Jardins do Meiji-Jingu
Desde tempos ancestrais, que o Japão preservou e alimentou as suas abundantes florestas. Quando, durante a II Guerra Mundial, elas foram fortemente danificadas, o Imperador Showa empenhou parte da sua fortuna pessoal numa campanha de reflorestação. As pessoas responderam prontamente, e o Japão possui hoje mais de 9,600,000 hectares de florestas. Desde há muitos séculos, que os Japoneses acreditam que os Kami, os poderes da dimensão espiritual, podem estabelecer contacto com os humanos através das árvores. Por isso, em alguns templos, encontramos árvores sagradas, algumas com milhares de anos. Um sentimento daquilo que há de sagrado nas árvores, e o desejo de as conservar, está profundamente enraizado na espiritualidade do Japão.
Fotos: Banzai

28 comentários:

Wanderley Elian Lima disse...

Muito bom o texto . Estar em contato com a natureza, é estar em contato com seus deuses, uma vez que ela é a maior criação divina.
Beijos

Rogério G.V. Pereira disse...

Claro que li atentamente
(só sei ler atentamente)
E de todas as ideias e frases
uma ficou sempre presente
"O mundo não se pintava a duas tintas, mas a três, quatro, cinco...os meus lápis de cor já não chegavam"

Se eu não percebesse os deuses,
estas palavras bastavam...

Continue falando-me da mitologia japonesa, ela explica o seu povo...

Beijo do

Namban-jin

Acontecendo em Roma disse...

Belissima essa religião sem imposições ou sensos de culpa!
E o que posso falar dessa espiritualidade das árvores? Os japoneses devem ficar passados aqui em Roma ao verem tantas arvores com cartazes presos nelas!!
São tantas coisas incriveis que vc escreve aqui Loli, que seu blog tem que virar um livro qualquer dia desses!
bjssss

disse...

Margarida, esse seu texto é daqueles que quando acaba ficamos com o desejo de quero mais. Sinto uma proximidade cada vez maior de você com você mesma nos seus textos. Grande beijo! A pausa é só lá, estarei sempre passando por aqui.

Nilce disse...

Oi, Margarida

É tão bom ler-te. Já conheço bem essa tua transparencia, mas hoje ela me ficou mais completa ainda. A crença nos permite um reencontro. E ele aconteceu contigo.
Adorei conhecer o Shintoísmo através de tuas palavras.

Obrigada pelo carinho incondicional por mim. Não sei se mereço.

Bjs no coração!

Nilce

diariodumapsi disse...

O shinto reverencia a natureza e não o homem, e isso faz toda a diferença, não há julgamentos,não há bons e maus!
Maravilhoso o seu texto, faz com que paremos para refletir e reveja valores!Parabéns!
Bom domingo
Gd beijo

Lívia Azzi disse...

Ah, Lolipop, que post maravilhoso!

Me lembrou de um livro muito agradável que estou lendo "Aprender a Viver" do Luc Ferry, defensor do humanismo secular (baseia-se na razão em detrimento da fé). para ele, todas as interrogações filosóficas se reduzem a mesma e única fonte, assim como a religião: enfrentar o medo da morte. A diferença entre a religião e a filosofia é que a primeira a salvação se fará "por um outro, pela graça", enquanto que na segunda a faremos "por nós mesmos", sem a ajuda "exterior e superior" a nós.

O livro dele me lembrou também seu texto, quando ele fala sobre os estóicos (filósofos da Grécia antiga) que buscam na natureza a "teoria" :(theion) estrutura essencial do mundo / divino ; e o (orao) instrumento do conhecimento para alcançá-lo / visão.

Para os estóicos o essencial era acordar-se com a harmonia do mundo, a fim de nele encontrar o justo lugar que cabia a cada um no Todo. Se você quiser comparar essa concepção deles com o que conhecemos em nossa sociedade é a idéia da ecologia "os fins do homem moram na natureza".

E esses, são apenas algumas das semelhanças de seu texto com o livro, apesar da temática ser diferente...

Um beijo!

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Dear Margarida, sweet friend!

Infâncias idênticas, aprendizagens algo semelhantes, dúvidas e descobertas irreversevilmente iguais...
Shintoísmo, algo novo, fascinante.
Aprendo contigo este caminho na floresta.

Beijinhos

Lu Nogfer disse...

Ha muitos lugares que precisariam de algo forte pra que houvesse preservaçao a natureza!Fico imaginando quao linda e conservadas devem ser as sagradas arvores!

Fantastica a sua sensibilidade para passar a mensagem que pretende!Tenho aprendido mt a cada leitura sua!
Vc escreve muito bem!
Parabens!

Beijos e boa semaninha!

She disse...

Seus posts, minha querida, são verdadeiras aulas, sabia? Adoro!
Beijo, beijo!
She

o mar e a brisa do prazer de aprender disse...

Leitura boa de iniciar e terminar.
O Deus é um só, o que vale é amarmos os outros e praticar aquilo que nos torna livres e felizes.
O meu Deus,
saúda o seu.
Bjus

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Sweet Margarida! Hi!

What a wonderful day (~_~) mesmo!

Cheguei há pouco aqui...estive mesmo ao sol, pois claro!!!
Li mais um pedaço do Caim, estou a adorar.

Agora vou ao "bendito" poema (~_~)

Loads of love.

Unknown disse...

Boa noite Margarida,
quando crianças, tudo para nós é bem mais fácil e simples, talvez por isso mesmo não seja difícil fazer uma criança feliz.

Desconhecia o Shintoísmo, mas devo confessar que fiquei fascinada, se nós tivéssemos esse mesmo amor pela árvores e natureza, o planeta não estaria como está.

Deixo um beijinho amigo,
Ana Martins
Ave Sem Asas

ONG ALERTA disse...

A natureza nos ensina e muito, beijo Lisette.

Andreia Inoue disse...

viajei nas fotos e nos textos,adorei mesmo querida.
um beijaooo.

Desabafando disse...

Não conhecia nada disso mas acredito no poder da natureza! Vim aqui anteriormente, fiquei de voltar, fiquei sem tempo, me perdi..rsrsrs...mas cá estou de volta!

Vou seguir pra não perder mais..rsrs

Beth/Lilás disse...

Ah, Margarida, que maravilha!
Pois eu não sabia de nada disso, nem que o Shinto era a religião oficial do Japão e nem que adoram a natureza, pois de agora em diante, sinto-me uma shintoísta, afinal o que mais amo e vejo Deus é na natureza.
Portanto, achei então minha religião.
Amei este post!
um beijo carioca

J.Ferreira disse...

Olá Margarida!

Peço desculpa se não a visito as vezes que merece, nem a si nem a ninguém, não é muito do meu feitio.
Julgo qe me entenderá!

Gostei imenso do que publicou. Shintoísmo e a natureza. Só posso gostar. Acho mesmo que vou começar a seguir atentamete.
Quero ver o que diz a Parte II.
Parabéns.
Beijinho
J.Ferreira

Anónimo disse...

É muito bom questionarmos sempre. Não gosto de fé cega. Hoje permaneço na na fé católica porque me sinto melhor...
Beijos na alma e ótima semana!

R disse...

Olá lolipop,
Gosto sempre de te ler. Ficamos a conhecer mais sobre uma cultura tão diferente da nossa. Mas muitas vezes interrogo-me, tu és uma pessoa interessada na cultura japonesa ou és mais do que isso, refiro-me se tu ou a tua família serão de origem japonesa. Sei que no Brasil existe uma grande colónia japonesa, principalmente em S. Paulo, não é? Se quiseres responde-me. Beijinhos

Mimo Chic disse...

Querida Margarida,
que presente ter passado ao seu blog!!!
Adoramos, que lindo ler sobre historia, momentos , nossa estou encantada!
Estamos com um novo espaço, o MimoChic, e adoraria ter a honra da sua visita e quem sabe ser nossa seguidora...rs
por aqui ficamos, bjs
Lulu & Sol

Denise disse...

É muito prazeiroso aprender algo novo através de suas palavras, querida!

Bjinhos, ótima semana!

"(H²K) 久保 - Hamilton H. Kubo" disse...

Olá querida Margarida, confesso que já havia ouvido falar do shintoismo, mas confesso que não tinha esta profundidade de informações... Como sempre esta presente minha querida amiga Margarida, nos ensinando cada vez mais sobre a cultura oriental (desconsidere o fato que "Eu" é quem deveria saber... rsrs)
Mais uma vez, muito obrigado por mais esta relíquia para a Blogosfera!

Beijos querida amiga, saiba que te adoro!

Anónimo disse...

eu morro de dó quando dou falta de alguma arvore, temos casas hj pois se derrubou arvores que estavam ali, mais me da um forte desapontamento quando vejo uma arvore grande e linda de um lugar que nao tem construçao sendo devastada, esta semana cortaram uma perto do shopping da minha cidade, ela estava num ambiente de uma concessionaria de carro, penso que vao almentar a loja, mais fiquei muito xateado

Elisa no blog disse...

Morando no Japão tive a oportunidade de visitar vários templos xintoístas, ou shintoístas. Realmente tudo o que vc escreveu se reflete lá. Reparou que eles não cobram ingresso enquanto a maioria dos templos budistas famosos cobra?

Talles Azigon disse...

eu que amo conhecer a Historia e a doutrina de todas as religiões, uma vez me deparei com o xintoísmo e fui atrás de mais coisas e percebi que assim como todos as cousas vindas de uma terra linda e sagrada como o Japão era díficil de estudar e ao mesmo tempo fácil de entender. tem haver com o que diz a natureza e o coração

Michelle Lynn disse...

Olá!!!

Como lhe disse certa vez, adoro ler sobre religiões, somente para conhecimento, pois acho que seguir não é preciso, pois como vc mesma disse, a fé, a moral, as virtudes estão dentro de nós, independente de seguimentos religiosos. Desde que me entendo por gente acredito nisso. Fui batizada no catolicismo, mas minha mãe sempre deixou que escolhecemos nossas crenças.
De uma certa maneira, tenho mais admiração pelas crenças antigas ou pagãs (segundo os católicos). Por isso adorei ler o texto, ler sua opinião sobre o assunto e mais uma vez me identifiquei muito com tudo que li!!!!

Muitos beijos bem carinhosos...
Mi

Gabriel Roth Fabris disse...

Se Abençoado(a) Grande Homem(a) Gostei Mto Disso Nutrindo Minha Curiosidade Sobre O Mundo Espiritual

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