Presume-se que foi em 1603, o ano em que o shogun Ieyasu Tokugawa estabeleceu a paz no país, que uma dançarina se instalou num palco ao ar livre, nas margens secas do Rio Kamo, em Quioto, e com a sua troupe de entertainers femininos, começou a dançar. Aqueles que a viram ficaram deslumbrados. Á medida que a notícia se espalhava, multidões afluíram ávidas de dança, música e belas mulheres, depois de séculos de guerra civil. IZUMO NO OKUNI (Okuni de Izumo), era o nome da dançarina que se dizia ter sido miko (serviçal ) no Templo de Izumo, um dos mais venerados templos shintoístas do Japão.
Perante uma plateia repleta de samurais, homens, mulheres e crianças, Okuni dançava. Algumas vezes vestida de sacerdote shinto, outras parodiando um sacerdote cristão, muitas vezes vestida de homem, com um bigode pintado na cara e calças de brocado, despertando o riso e os aplausos entusiásticos da assistência. Mas os seus movimentos não eram apenas graciosos, eram também cobertos de erotismo, mesmo quando empunhava uma espada. A sua dança foi a semente do kabuki e também do mundo flutuante das cortesãs e das geishas.
A performance de Okuni e do seu bando de mulheres artistas começou a ser conhecida por kabukimono - termo empregado no sentido de "extravagante", "excêntrico". A sua fama espalhou-se por todo o Japão e teve rápidamente as suas seguidoras - troupes de prostitutas e cortesãs exibindo danças sensuais e pequenas farsas por todas as grandes cidades. O shogunato não podia arriscar-se a permitir algo que tivesse a capacidade subversiva de perturbar a ordem pública. Quando os homens começaram a lutar entre si por causa das actrizes, as autoridades baniram (em 1628) as mulheres dos espectáculos públicos. A lei levou algum tempo a ser cumprida. Mas, em 1647, as mulheres desapareceram do palco, mantendo essa ausência durante 250 anos. O kabuki é até hoje representado apenas por homens.
Estátua de Okuni em Quioto
14 comentários:
Olá!!! Obrigada pela visita e comentário no meu blog!!! Adorei o seu tb, tem mta coisa super interessante!!! bjs!
Oi, Margarida
Achei superinteressante.
É impressionante como em muitas culturas, quando a mulher começava a se destacar, tudo era feito para ela desaparecer.
Bjs no coração!
Nilce
Realmente uma história pra lá de interesasnte.
Infelizmente o machismo de anos atrás ainda deixa seus resquicios em nossa sociedade.
Gostei de saber mais sobre o Kabuki.
Ah sobre o Livro, não li.
Na verdade só ouvi falar através de você.
Beijos!
Me pergunto, és descendente? rsrs
Beijos!
Adoro estes teus textos. Aprendo sempre qualquer coisa :)
Acho que o kabuki é como a ópera ou se gosta ou não.
Na minha viagem (de sonho) ao Japão é algo a não perder.
Um abraço
MikMary
Nossa! Também não me admiro da proibição para aquele século, mas hoje ainda ser representada só por homens é estranho.
Beijos na alma, querida.
ja vi um teatro de kabuki,antigamente as familias muito ricas tinham um teatro em suas propriedades.
E pena que ainda hj so seja apresentada por homens.
um beijao.
Olá Margarida, você sabe qual a opinião das mulheres da atualidade? Elas gostariam de representar ou se sentem constrangida pelas origens? Ou seria uma quebra de tradição essa mudança na atualidade? Desculpa, é que deu uma curiosidade. Bjoss
Adoro Kabuki, mas não sabia a história de sua origem. Muito interessante.
Bjkas e um ótimo dia para vc.
Que linda história, mais uma vez nos agradando em cheio!
Bjos!
olá!!! Obrigada pelo comentário em meu blog. Gostei muitissimo. Pode continuar, rsrs!!!
"...nada de novo debaixo do sol" termina-se com as doenças matando os doentes. Eles começaram a brigar e elas é que pagaram o pato!! Eu já conhecia a história do Kabuki e, quando aprofundei mais o conhecimento, acabei até me desinteressando, pois desagradam-me essas repressões tão sem fundamentos. Imagino que essa dança deveria ter sido bem interessante quando executada por mulheres, a ponto de causar tal celeuma. Ótimo post. Bjsss
Muito bom seu post!
Gosto muito de um jogo chamado Samurai Warriors (http://samuraiwarriors2.co.uk/), o qual ilustra o período Sengoku ao período Edo, no Japão.
Okuni é um dos meus personagens favoritos e é sempre encontrar fontes de onde se originaram os personagens.
Obrigado.
=)
Alex
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