"Cheguei ao Japão. Amei-o em transportes de delírio, bebi-o como se bebe um néctar..." - foram estas as palavras de Wenceslau de Moraes, quando visitou pela primeira vez o País do Sol Nascente. A cultura exótica e delicada do Japão e a sua beleza, desde há muito que exercem o seu fascínio em muitos estrangeiros, mas, o Português Wenceslau de Moraes, não se deixou apenas encantar, quis viver, amar e morrer, "...jazendo para sempre à sombra do bambual, onde as cigarras iriam cantarolando hinos eternos!...", no país onde "as minhas forças emotivas mais pulsaram em presença dos encantos da natureza e da arte."
Moraes, nasceu em Lisboa a 30 de Maio de 1854, frequentou a Escola Naval, sendo nomeado imediato da Capitania do Porto de Macau em 1891. Em Macau, casa com a chinesa Atchan de quem teve dois filhos. Durante a sua estadia, visita por diversas vezes a China e o Japão, países entre os quais considera existirem diferenças profundas. Descreve a China referindo-se "à imundície dos seus povoados, onde chafurda um cardume de gente feia por excelência...". É o Japão que o fascina desde logo: "esse país atraente entre todos, pela sua paisagem ameníssima, pelo puro azul do céu privilegiado, pelo seu povo interessante...".
Em 1899 deixa para trás Macau, Atchan e os filhos para ocupar o lugar de cônsul de Portugal em Hiogo e Osaka e posteriormente em Kobe e Osaka. Aquilo a que chamam a sua "japonização" começa aqui. Casa em 1900, segundo os ritos shintoístas, com uma geisha de Osaka, O-Yoné. Mais próximo da terra e do seu povo, quer transmitir a outros, os seus compatriotas, a sua paixão e entusiasmo. Fá-lo através da escrita, tarefa que já tinha iniciado em Macau. Deixa-nos uma série de livros, muito pouco conhecidos entre nós, em que documenta as paisagens, a história, a tradição e a alma Japonesas.
Após a morte de O-Yoné. em 1913, abandona o seu cargo consular e vai viver para a terra natal desta, Tokushima: "Ora é nesta terra de deuses e de budas (...), onde vim à procura da paz, da tranquilidade(...). Incrível ousadia, para um loiro, para um homem dos países de raça branca e, ainda por cima Português!..." Em Tokushima converte-se ao Budismo e ainda tem um último amor, a Japonesa Ko-Haru.
Mas Ko-Haru, também morre por doença, deixando-o desta vez, sózinho na companhia dos seus gatos e das suas saudades. Apesar dos seus esforços, não foi aceite nem compreendido pelo povo de Tokushima - "...este bom povo de Tokushima, arisco, conservativo, detestando cordialmente o europeu..." Morreu em 1929 e foi, conforme o seu desejo, cremado e enterrado segundo os ritos budistas, e as suas cinzas colocadas junto das de Ko-Haru, já que a família de O-Yoné lhe recusou essa vontade. O seu kaymiô, o nome budista atribuído após a sua morte, e que se encontra gravado no seu túmulo em Tokushima, pode ser traduzido por "o homem que abriu a janela do Japão para o exterior através dos livros". Hoje existe um monumento em sua honra na cidade onde passou os últimos anos da sua vida.
No monumento há uma inscrição : "Aquele que trocou a sua alma pela japonesa". Mas Wenceslau de Moraes, foi sempre até ao fim, um "porutugaro-jin" em terras do Japão.
6 comentários:
parabens pelo post,adorei!!
beijao.
Menina,
Vc tinha razão. O post é sensacional. E com a complementação do Alexandre então...
Sou uma mistura de europeus com indígenas, mas sempre tive um fascínio inexplicável pela cultura japonesa.
Uma das primeiras coisas que achei interessante, foi o fato de, quando era adolescente, uma amiga casou com um japonês, eu namorava outro, rsrs, e ela não poder ter duas nacionalidades. O japão não aceita.
O Alexandre explicou tudo e este post demonstrou esta questão de valores e cultura.
Maravilhoso post.
Bjs no coração!
Nilce
Ah, Margarida
Agora eu quero o barulhinho no meu blog...
Me manda por e-mail passo a passo, porque entrei na página e é tudo em japonês.
Socorro!
Eu ia te mandar um selinho que ganhei semana passada e esqueci de te falar que já o vi no teu blog.
Vc não quis pegar o outro que deixei lá? Pega vai.
É o selo da Gilmara.
Bjs no coração!
Nilce
Eu não conhecia a história de Wenceslau de Moraes! Fantásctica. Gosteria de ler algo que ele escreveu.
Bjkas e um ótimo domingo.
Oi, querida
Não entendi, pois eu sempre me coloco como seguidora antes até de add na minha lista de blogs.
Perdoe-me.
Estava aqui a ler posts antigos teus. Gostei muito do sobre aparências. Sensacional.
Não achei teu e-mail. Vc tem o meu, então se achar conveniente...
Já notou que não consegui por o sininho. Consegui até traduzir a página, mas acho que o meu templaste não aceitou. Vou tentar novamente.
Bjs no coração!
Nilce
Olá, td bem?
Primeiramente agradeço pela visita em nosso blog (Tabeteimasu), sem ela não teria conhecido tantos assuntos interessantes, muito bacana a história do Wenceslau de Moraes.
E adorei as imagens que colocou em toda a página, eu sou suspeita pra falar em artes pois adoro td que é relacionado a desenho, imagem, escultura e outras manifestações artísticas, confesso que consegui buscar inspiração e paz dentro da minha alma (ainda mais com esse barulhinho do sininho que deixou no blog, é um convite pra relaxar mesmo rs!).
Parabéns!
Bjs e ótima semana!
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