Um dos principais ramos da Yakuza ( mafia japonesa), o Yamaguchi-gumi, promoveu, como habitualmente, em Kobe, uma festa de Natal em que para além da distribuição habitual de brinquedos e "mochi"- bolinhos de arroz, foram este ano entregues envelopes com dinheiro assinados pelas duas figuras de topo na organização, uma delas cumprindo pena neste momento. A generosa oferta visa, segundo a polícia local, "amaciar" a opinião pública. O assunto foi notícia na imprensa e na blogosfera japonesas e trouxe-me à memória a leitura recente do livro de Jake Adelstein. "TOKYO VICE". Adelstein, que estudou na Sofia University no Japão, em 1992, apresentou-se como candidato às provas para admissão no YUMIURI SHIMBUN, um dos mais prestigiados jornais japoneses, e foi o primeiro americano a ser contratado como jornalista numa base efectiva. Durante doze anos, fez a cobertura de tudo o que dizia respeito ao mundo do crime, até que isso o levou a uma investigação que envolvia uma figura demasiado importante da Yakuza. As ameaças que sofreu, estenderam-se à família e aos amigos, esteve sobre protecção policial, abandonou o emprego e regressou aos Estados Unidos, mas não conseguiu esquecer. Voltou sózinho, reuniu provas suficientes e publicou um livro em que narra de forma cativante, uma viagem através dum mundo sombrio de gangsters, tráfico sexual, psicopatas, jogos de poder e influência, mas fala também de amizade, de pequenos episódios do dia a dia, da complexa sociedade nipónica. O livro, que tem recebido as melhores críticas e já vai na terceira edição, ainda não foi publicado em versão japonesa.Jake Adelstein, que quando se descalçava para entrar numa casa japonesa, se destacava por nunca calçar meias da mesma cor, e que seguiu o preceito japonês -"To ask may bring momentary shame, but not to ask and remain ignorant brings everlasting shame"- conseguiu comprometer um gang-boss poderoso, num percurso perigoso, em que perdeu uma amiga e chegou a pensar no suicidio.
O Yamaguchi-gumi conta, de acordo com estimativas policiais, com 40.000 membros. O Goto-gumi, um ramo do Yamaguchi, chefiado por Goto Tadamasa, foi o alvo de Adelstein.
Foi Goto, diz-se, o mandatário dum brutal espancamento ao realizador Juzo Itami, por não ter gostado do retrato da Yakuza, apresentado por este no filme Mimbo no onna. Juzo Itami sobreviveu e tornou-se numa voz incómoda para o crime organizado. Poucos anos mais tarde, em circunstâncias pouco claras, alegadamente suicidou-se atirando-se do alto dum arranha-céus.
Adelstein, trabalha actualmente num projecto que tem a sua base em Washington, o Polaris Project Japan, uma organização que combate o tráfico e a exploração sexual de mulheres e crianças.



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