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sábado, 5 de junho de 2010

RABU - AMOR EM JAPONÊS

Os Japoneses são, por tradição e cultura, um povo contido no que respeita a exteriorização de emoções. Entre os samurais, havia um ditado que dizia que um guerreiro só devia permitir-se qualquer mostra de emoção uma vez em cada três anos. Nós, os Ocidentais, sobretudo os latinos, somos pródigos em manifestações de afecto. Beijos, abraços, palmadinhas nas costas e apertos de mão demorados, são um vocabulário gestual a anos luz de distância das conhecidas vénias Japonesas. Quando se tenta misturar os dois, a coisa nem sempre corre bem...
Nas ukiyo-e que exibiam o "mundo flutuante" de cortesãs e geishas, mesmo quando tomam uma forma explicitamente erótica (as shunga), raramente vemos o beijar retratado. De facto, parece que o toque sensual dos lábios, era uma das mais esotéricas  técnicas nos manuais da geisha. Em 1930, quando houve uma proposta para que se exibisse em Tóquio a famosa estátua de Rodin - O Beijo - o facto desencadeou manifestações de protesto, e propostas para que se exibisse a escultura com as cabeças cobertas por um pano. Os corpos nús, não apresentavam qualquer problema. Era o beijo que não se enquadrava nas interacções humanas "normais". Por fim, o Rodin só foi mostrado depois da II Guerra Mundial, quando o primeiro beijo apareceu num filme Japonês.
E, se o beijo é uma manifestação do amor, em que ficamos quanto ao Cupido Japonês? Em 1915, T. H. Sanders, um ocidental em visita ao País do Sol Nascente, escreveu no seu livro "My Japanese Year": "O facto é que neste país, o Cupido passa um mau bocado, esta é uma terra desconhecida para ele. Olhares doces, dias de Primavera e noites de luar, deambulações junto ao mar, mão na mão, suspiros e confidências ternas, e todos os outros "ministros do amor", não têm lugar aqui."
Mas, nos finais do século XIX, os intelectuais Japoneses celebravam o conceito de rabu, a fonetização Japonesa da palavra love, uma vez que não dispunham dos sons "L" ou "V" (note-se que o R inicial não se pronuncia como em rato ou rolha, sendo antes um som entre o L e o R). A palavra tinha um brilho extra por conter uma emoção estrangeira algo exótica. O escritor Nagai Kafu, que passou toda a sua vida entre geishas e raparigas de bar (foto abaixo), e desceu ao túmulo com o nome duma geisha tatuado no corpo, escreveu que o momento mais transcendente da sua vida, aconteceu quando trocou algumas palavras com uma jovem Americana em Staten Island. Falaram de ópera, da irrelevância do casamento e da poesia do céu noturno, depois separaram-se com um suave aperto de mão. Love ou Rabu?
 Em 1969, ainda podia ler-se, num dicionário de conversação Inglês-Japonês, sobre a palavra "love": "O casamento no Japão é geralmente arranjado pelos pais, e raramente o resultado dum amor mútuo. A língua Japonesa é, por isso, pobre em expressões de afecto (...)."

Referências: T.H.Sanders, My Japanese Year
John David Morley, Pictures From the Water Trade
Lesley Downer, Geisha - The Remarkable Truth Behind the Fiction

14 comentários:

"(H²K) 久保 - Hamilton H. Kubo" disse...

Adorei!!
Me lembro muito bem, os anos que passei lá no Japão que mesmo nos dias de hoje a demonstração de afeto é um tanto difícil.
Me recordo que falavam que se vissemos um casal de mãos dadas, é pq o mesmo esta indo a um Motel... rsrs
Engraçado né?
Neste quesito dou graças a Deus por ser um brasileiro, e não ter o menor problema em demonstração de afeto, até mesmo pq as vezes me julgo exagerado... rsrs
Mas águas passadas, como não tenho uma cia, não tenho como exagerar não é mesmo?? rsrs

Adorei mesmo a postagem, ela é muito verdadeira, mesmo na atualidade apesar do tremendo avanço alcançado pela cultura.

Beijos, ou diria Ternuras...

Anónimo disse...

Não sei se isso é por ser um tanto "Japonesa", mas eu não acho que sejam eles pobres em palavras que demonstrem afeto.

Acho, entretanto, que dão mais peso para as palavras desse gênero. Não se expressa isso muitas vezes, por não serem coisas que possam ser mensionadas com tanta facilidade, devido à importância que dão a esse tipo de sentimento.

Nilce disse...

OI, querida

Vc não pegou os selinhos?

Amei as informações, como sempre, do post.
Apesar de ser bem brasileira, latina, descendente de tudo que é raça, rsrs, acho muito interessante esse tipo de cultura.

Um meio termo, como disse o Alexandre, é de bom tamanho.
Não sou puritana, bem ao contrário, mas acho de muito respeito essa tradição.
Por aqui há muito exagero, muita importância para o carinho em público e isso acarreta muitos problemas.

Muitas vezes, vergonha. Vira bagunça, rsrs

Bjs no coração!

Nilce

disse...

Olá Margarida, como brasileira que sou acredito que demonstrar afeto nunca é demais, inclusive seríamos um mundo muito mais feliz se fosse mais comum. Mas veja bem, falo de carinho, afeto, amor. Mesmo sendo ocidental, onde as emoções são mais expostas, me sinto incomodada se essas demonstrações fogem do bom senso e ultrapassam os limites do mediador interno, o respeito. Tudo dentro de um equilíbrio harmonioso. Não tenho como comparar se um lugar está mais correto que o outro na demonstração, é uma diferença cultural enorme e talvez meu pensamento não fosse esse se eu tivesse nascido no Japão, sei lá. Na verdade, o que eu torço é pelo amor, que ele exista. Bjosssss.

lolipop disse...

Talvez tenha feito mal em postar, apenas citando factos e frases, sem um comentário que desvendasse a minha própria posição.
Queria que soubessem que não defendo as manifestações excessivas, que muito pelo contrário acho deploráveis, nem advogo a causa dos que se enrolam em todas as esquinas, o que considero de extremo mau gosto.
Acho sim que a afectividade tem uma expressão, verbal e física, e que sem ela nós somos navegadores sem mapa. É isso que me acontece por vezes, com os poucos amigos Japoneses que tenho...
Obrigada a todos os que me deixam comentários. São vocês que fazem o Banzai!

Andreia Inoue disse...

o bom eh o meio termo.
:D
antigamente os japas eram mais impessoais,hj em dia ja é comum ver inumeros casais andando de maos dadas,abracados.
beijao.

Anónimo disse...

Que coisa, hein? Por esse lado é bom morar no Brasil. Contudo se a falta de demonstração de afeto é ruim, o excesso também é, digo, pessoas que não tem um pingo de senso de pudor.
Ótimo post. Beijos na alma, querida!

Betty Gaeta disse...

Acho que prefiro a nossa maneira de amar, mais "caliente", mais "espetaculosa", e olhe que eu sou bastante contida .
:)
Bjkas e um bom dia para vc.

Bah disse...

Depois que eu voltei pro Brasil, ainda estranho as pessoas se agarrando e se beijando na minha frente. Me sinto constrangida e sempre falo: Get a room! zuando, mas ao mesmo tempo como uma verdade. Não costumo ser assim e tb é bem difícil entender os sentimentos dos japas. Meu pai nunca falou eu te amo, mas ele demonstra isso todos os dias e, em compensação, pais de amigos meus que beijam seus filhos, todos dos dias e dizem abertamente que os amam, nem sempre mostram isso com atitudes.

Kisu!

Ângela disse...

MINHA QUERIDA, SOU DAQUELAS PESSOAS QUE NÃO VIVO SEM DEMONSTRAÇÕES DE CARINHO, A TODOS CHAMO DE QUERIDA OU QUERIDO, DEMONSTRO CARINHO SIM...CLARO QUE TENHO BOM SENSO, ACREDITO QUE SEI COLOCAR AS PALAVRAS E OS GESTOS NAS HORAS PROPRICIAS. PROCURO SEGUIR UM DITADO POPULAR QUE DIZ QUE TEMOS DE DAR O QUE QUEREMOS RECEBER, ENTÃO, APRENDI SER ASSIM ME SINTO Bem sendo assim. Poderemos demonstrar carinhos e afeto com respeito e sem vulgaridade.
Penso que a vida levada sem demonstração de carinho é igual a uma vida passada em preto e branco, uma coisa sem graça.
Vamos viver com respeito acima de qualquer coisa, mas que seja uma vida colorida.

MARGARIDA, NÃO SEI NEM COMO É SEU ROSTO, (a foto que tem no blog é muito pequena), mas isso é só um detalhe, porque mesmo não sabendo como vc. é fisicamente, sei um pouquinho como é a pessoa Margarida, pelo que escreve e relata e me permite ler. Por tudo isso EU ADORO VOCE, se estivesse
próxima a mim, iria adorar abraçar você.

Ângela disse...

MA, estou um pouco melhor, agora é minha mãe que não anda muito bem,e como ela é bem velhinha (89), requer cuidados.
Boa semana.
beijokas e ternurinhas

Tabeteimasu disse...

Muito legal o post. É por isso que muitas pessoas tem a imagem do Japão e dos japoneses como pessoas frias. No pouco tempo que morei lá, realmente é difícil ver casais trocando beijos e abraços mais calorosos. Quando via algum na rua era brasileiro...rs...

Até nas novelas japonesas é difícil ver cenas das pessoas dizendo eu te amo e se beijando. Ás vezes só no último capítulo é que a pessoa se declara e mesmo assim, bem diferente dos ocidentais...

Bjo,
Carlos

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Querida amiga Margarida! Sweetie!

Acabei de publicar no SEMPRE JOVENS , este teu texto que achei maravilhoso.
Espero que não leves a mal tê-lo feito sem consulta prévia.

Vai lá espreitar quando tiveres um momento.
Beijos.
Vou para o sol.


Fernanda Ferreira

Aramati disse...

Desde q soube da origem da palavra 'Kisu' me perguntava se Japonês realmente não tinha uma palavra pra beijo.
Mas agora não ha mais duvidas XD

Kisu kisu mina
ja ne

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