A Escrita Japonesa

De cada vez que vejo um japonês a traçar displicentemente os seus caracteres numa folha de papel, não posso deixar de abrir os olhos de admiração e fascinio. Lembro-me sempre de Will Fergusson em "Hokkaido Highway Blues": "(...) Se Deus quisesse que eu aprendesse kanji, ter-me-ia dado um cérebro maior."

Na complicada escrita japonesa, existem três sistemas: KANJI, HIRAGANA e KATAKANA. As crianças no Japão, aprendem primeiro hiragana, depois katakana e finalmente kanji. "Kan" é uma palavra antiga para chinês, "ji" traduz-se por letra. O kanji foi trazido da China para o Japão, via Coreia, por volta do século V, e progressivamente adaptado à escrita japonesa. O kanji, é ideográfico, foi desenvolvido a partir de gravuras e objectos naturais. Cada kanji representa uma ideia. Combinando caracteres, criam-se mais palavras. Por exemplo, juntando "electricidade" com "carro", temos "comboio". Há cerca de 10.000 na escrita japonesa, e, para ler um simples jornalinho, precisamos de conhecer pelo menos uns 2000!

A escrita chamada hiragana, foi introduzida pelo monge Budista Kukai (AD 774-835). Nessa altura, acreditava-se que as mulheres não eram capazes de aprender os intricados kanji. Com o hiragana, as mulheres começaram a expressar-se através da escrita e muitos dos primeiros trabalhos escritos japoneses, são assinados por mulheres, como o famoso GENGI MONOGATARI (Tale of Gengi), da autoria de Lady Murasaki Shikibu. O hiragana é usado para todas as palavras japonesas que não têm um kanji, e acrescentado ao kanji com funções gramaticais. Por último o katakana cobre todas as palavras estrangeiras que foram adoptadas e adaptadas à linguagem japonesa, como "restaurant" (resutoran), "icecream" (aisukurimu) ou "stereo" (sutereo).

Tradicionalmente os japoneses utilizavam pincéis para escrever, por isso os ocidentais quando pensam na caligrafia japonesa imaginam quase pinturas. O SHODO, é considerado uma arte no Japão, mas falarei disso mais adiante.